segunda-feira, 24 de setembro de 2007

SANTIAGO (IDEM):
Quando decidi ver esse documentário, estava com o pé atrás. Não tinha muita certeza se o depoimento do ex-mordomo da família Moreira Salles era tão relevante assim. Mesmo assim fui, levada pela admiração ao cineasta João Moreira Salles e a confiança de que ele não faria um filme que não tivesse o mínimo de relevância.

O resultado foi que me surpreendi. Confesso que me emocionei muito. Ri e chorei várias vezes. E ainda me fez refletir. Em resumo, o documentário tinha mesmo relevância e as críticas positivas estavam corretas. E, como eu imaginava, João Moreira Salles sabia o que estava fazendo.

Santiago é um documentário que traz o perfil de Santiago Badariotti, o mordomo da família Moreira Salles por muitos e muitos anos. Com certeza, foi um personagem e tanto! Santiago foi um mordomo exemplar. Além disso, era culto e completamente excêntrico. À princípio, se mostra tímido e meio sem jeito diante das câmeras. Mas com o passar do tempo, fica totalmente à vontade perante elas. E é a partir daí que conhecemos a personalidade cativante e interessante de Santiago.

O documentário é extremamente sensível. Diria que é uma homenagem do cineasta ao homem que ajudou a criá-lo e aos seus irmãos. Existe no ar um misto de respeito, gratidão e nostalgia dos tempos de infância. Santiago não é um documentário como outro qualquer. Na verdade, ele é a necessidade do cineasta João Moreira Salles de entender melhor seu passado e lidar com possíveis fantasmas da infância. O filme é narrado por um dos seus irmãos, o que dá a sensação de que é a voz e a idéia de todos eles sobre o ex-mordomo. O documentário tem um quê de gratidão. Por isso é tão bonito e cativante. É um grande momento do cinema nacional. Nota: 9.
Melhor momento do filme: Quando Santiago quase confessa sua homossexualidade.
SANTIAGO (Santiago) - 2007 - Gênero: Documentário - Direção: João Moreira Salles // Santiago Badariotti // Imagem: Adoro Cinema.

sábado, 8 de setembro de 2007

PEQUENA MISS SUNSHINE (LITTLE MISS SUNSHINE):
Nos últimos tempos, o prêmio da Academia de Cinema dos Estados Unidos (o famoso Oscar) vem sendo surpreendido por filmes que não tem lá tanto potencial comercial, nem uma campanha enorme e brilhante de marketing por trás e muito menos um orçamento milionário. Mas que mesmo assim chamam atenção do público e da crítica, derrubando algumas produções “oscarizáveis” e rentáveis. São os chamados azarões.

Pequena Miss Sunshine é um desses filmes. Totalmente despretensioso e independente, cativa qualquer um que assiste. Muitos produtores de Hollywood, acostumados com a fama e os prêmios, devem ficar atordoados quando uma produção tão simples toma de assalto o grande prêmio da indústria nos Estados Unidos.

O que eles não sabem é que a fórmula é simples. Tão simples quanto a história de Pequena Miss Sunshine. É a mistura de um bom roteiro, uma direção que não interfere demais e bons atores. Neste último caso, a química entre o elenco precisa ser forte. Os atores devem estar dispostos a dar o melhor de si. É o que acontece neste caso.

Pequena Miss Sunshine mostra a história de Olive Hoover (Abigail Breslin, uma gracinha!) e sua família. Sua mãe, Sheryl (Tony Collete), é o centro de tudo. Ela trabalha fora e cuida de cada um dos membros da família com muita atenção. O pai, Richard (Greg Kinnear), tenta vencer na vida vendendo um programa de auto-ajuda para que as pessoas aprendam os “9 passos para ser um vencedor”. O problema é que ele consegue vender a idéia para ninguém. O avô, Edwin (Alan Arkin), é viciado em heroína, foi expulso do asilo e se dá muito bem com a neta. Dwayne (Paul Dano) é o irmão mais velho. O adolescente fez voto de silêncio, quer entrar para a Aeronáutica e parece estar se lixando para o resto da família. E ainda há o tio Frank (Steve Carrel em um papel sério!). Estudioso de Proust, ele foi demitido de sua universidade depois de surtar, quando perdeu o namorado para um outro professor que concorre diretamente com ele. Depois disso, Frank tenta se matar, mas não consegue.

Olive sonha com concursos de beleza. Ela é convidada para participar do Pequena Miss Sunshine e, obviamente, agarra com todas as forças a possibilidade. A família decide, então, apoiar a menina. Todos vão para a Califórnia, mesmo à contragosto, para realizar o sonho de Olive. Eles usam uma velha Kombi amarela para chegar a Redondo Beach a tempo do concurso.

Pequena Miss Sunshine não trata de concursos infantis de beleza. Na verdade, ele é mais amplo. Trata da relação entre essas pessoas, de naturezas e desejos diferentes. Pessoas que não se entendem, que põem seu amor à prova. Pessoas que, no fundo, não queriam estar ali juntas, pois não gostam das atitudes umas das outras. Ou seja, uma família como outra qualquer.

Esta família comum é tão desestruturada e está tão em frangalhos quanto a própria Kombi que utiliza para chegar ao concurso. A comparação é perfeita. A Kombi quebra, emperra as marchas e precisa ser empurrada por todos os membros da família para que ande. A família Hoover também é assim. Está “quebrada” e precisa de um empurrãozinho de todos para seguir em frente.

Ao meu ver, existem três pontos cruciais para esta família: o sonho de Olive, a Kombi amarela e a jornada até Redondo Beach. Estes três pontos requerem um movimento da família em prol da união. Coisa que não existe. Durante a jornada, eles começam a se conhecer, a conviver e a perceber quem são e os seus papéis. Começam a ser uma família de verdade. E é disto que o filme trata.

Ah! Prestem atenção na parte sobre o concurso em si. É bizarro e assustador!

Pequena Miss Sunshine é emocionante, fofo e nos faz pensar. É uma ótima pedida.Nota: 9.
Melhor citação do filme: "Mãe, a miss Califórnia toma sorvete!"
PEQUENA MISS SUNSHINE (Little miss Sunshine) - 2005 - Gênero: Comédia - Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris // Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Toni Collette, Steve Carell // Imagem: Adoro Cinema.
O VIRGEM DE 40 ANOS (THE 40-YEAR-OLD VIRGIN):
Andy Stitzer (Steve Carrel) é um homem solitário e tímido que trabalha em uma loja de produtos eletrônicos. Sua rotina diária não é lá da mais animadoras, mas Andy vai vivendo sem reclamar. Um dia, um grupo de colegas de trabalho decidem chamá-lo para uma partida de poker. Entre uma conversa e outra, um segredo de Andy é descoberto: ele é virgem.
Este é o começo desta comédia bem engraçada e que me fez analisar o universo masculino. Para as mulheres, a virgindade é um tema comum e não tão chocante. Mas para um homem, ser virgem torna-se um problema gigantesco. Tanto que a vida de Andy torna-se um inferno. A história se espalha e todo mundo quer dar um jeito de "resolver o problema". E aí aparecem todas as formas mais esdrúxulas de conselhos que se pode imaginar. Em muitos momentos senti uma certa pena de Andy que, completamente sem noção, tem que seguir orientações absurdas de um grupo de homens tão perdidos e desorientados quanto ele. O que tem até uma certa ironia.
O virgem de 40 anos é mais um filme com a chancela do diretor Judd Appatow, que nos últimos tempos vêm lançando comédias divertidas e que também fazem pensar. Elas falam, principalmente de amizade - na maioria dos casos, entre homens. E para isso, ele se cerca de um grupo de amigos que estão sempre presentes nos seus filmes. É quase o que George Clooney fez com a série Onze homens e um segredo. Mas, a comparação para por aí. Judd Appatow está mais para Kevin Smith (Procura-se Amy), só que ainda não se perdeu em suas produções como este.
A única coisa que acho ruim em O virgem de 40 anos é sua duração. No começo é engraçado, tem umas tiradas maneiras... Mas o meio é looooooongo demais e o filme dá uma caída. O final é óbvio, mas não é ruim. Enfim, no fundo dá para se divertir. Nota: 7.
Melhor citação do filme: "Sabe de uma coisa? Eu respeito as mulheres... Eu amo as mulheres! Eu respeito tanto que me mantenho distante delas." (Andy Stitzer - Steve Carell)
O VIRGEM DE 40 ANOS (The 40-year-old virgin) - 2005 - Gênero: Comédia - Direção: Judd Apatow // Steve Carell, Catherine Keener, Paul Rudd, Seth Rogers, Elizabeth Bank, Romany Malco // Imagem: Adoro Cinema.
ÔNIBUS 174 (BUS 174):
Em 12 de junho de 2000, o Rio de Janeiro - na verdade, o Brasil inteiro - parou. Não para comemorar o Dia dos Namorados, como de praxe. Foi para assistir pela TV o drama de um grupo de pessoas que estava dentro de um ônibus no Jardim Botânico e foi sequestrado por um assaltante visivelmente alterado por uso de drogas. Como carioca, lembro deste dia e do horror e indignação causados por mais de 4 horas de negociações, desesperos e ameaças que levaram ao desfecho trágico do sequestro do ônibus da linha 174.
Na época, o sequestrador Sandro Nascimento era visto por toda sociedade como o próprio anti-cristo e muitos eram à favor do que aconteceu com ele no fim das contas. O cineasta José Padilha se interessou pela história e decidiu ir mais fundo no que leva uma pessoa a fazer o que Sandro Nascimento fez naquela tarde. Este é o pano de fundo para um dos documentários mais realistas já feito no Brasil.
Ônibus 174 mostra os diferentes pontos e visões da tragédia, que no fundo era anunciada. Para isso, temos depoimentos de alguns reféns, de policiais que estiveram presentes na operação, de psicólogos, jornalistas, consultores, assistentes sociais etc. Não há legendas com os nomes e funções destas pessoas, o que torna o documentário quase que uma análise informal de pessoas leigas sobre o tema.
Enquanto confronta a decisão tática da Polícia para resolver o caso do sequestro do ônibus, o documentário também mostra quem era Sandro Nascimento. Conta seu passado e aponta sua falta de futuro. Pessoas que conviveram com ele analisam sua personalidade e como se tornou o sequestrador do ônibus 174.
Esta parte também faz um paralelo com a vida dos meninos de rua da cidade. Alguns, chegaram a conviver com ele. Esta análise é extremamente crua e impressionante. São pessoas que não tem perspectiva alguma de vida, a não ser lutar um dia de cada vez pela sua sobrevivência. Independente de que jeito seja. Uma das entrevistadas ainda faz a profecia de que a violência não tem a tendência de melhorar e sim, de ficar pior. E não é o que vemos hoje, anos depois do filme ser lançado?
Fui ver Ônibus 174 movida pela onda do outro filme de Padilha: Tropa de Elite. A semente de um está no outro, pois ambos analisam a nossa sociedade injusta e, por isso mesmo, violenta. Terminei de ver o documentário me sentindo mal. Ele mexeu com meus sentimentos, me fez pensar e até entender pessoas como Sandro Nascimento. Para quem não tem nada e só recebe violência da sociedade, não há como responder de outra forma. É justificável, mas não perdoável. O documentário faz pensar que a violência vem de nós mesmos. E que naquele caso do sequestro do ônibus 174, todos temos nossa parcela de culpa. Nota: 9.
Melhor citação do filme: "Ele vai matar geral" (frase escrita no parabrisas do ônibus sequestrado por uma refém à mando do sequestrador Sandro)
ÔNIBUS 174 (Bus 174) - 2002 - Gênero: Documentário - Direção: José Padilha // Elenco real // Imagem: Adoro Cinema.
TROPA DE ELITE (ELITE SQUAD):
Antes de começar a escrever sobre o filme, vou colocar às coisas de forma clara: sim, eu assisti a versão pirata de Tropa de Elite. Eu não comprei, mas uma versão copiada veio parar em minhas mãos. A primeira vez que assisti fiquei tão impactada que mal consegui dormir direito. Era um filme cruel, assustador, duro e incrivelmente real. Era impressionante como um diretor finalmente colocou às claras o que acontece nos bastidores do crime. Só que desta vez era através da visão da Polícia, uma coisa diferente. Sensacional!
Com o fim da hipocrisia (afinal, ninguém admite ter visto a versão pirata, embora ela tenha batido recordes de vendagem), podemos falar sobre a versão oficial - a que foi lançada no cinema. Sim, porque também fui no cinema ver Tropa de Elite. Um filme sensacional como esse merecia ser visto em tela grande. Paguei meu ingresso e vi (com carteirinha de estudante válida!). E... não tive o mesmo encanto...
Quer dizer, o filme continua sensacional. Mas as (pequenas) mudanças que foram feitas para se diferenciar da versão pirata acabou tirando-o do lado "nu e cru" para jogá-lo do outro lado do muro. Tropa de elite ficou um pouco mais clean.
Poucas pessoas compartilham da minha opinião. Mas quem viu muitas vezes a versão pirata (a ponto de quase decorar todas as falas) e vê a versão oficial se choca com sutilezas. Por exemplo: a narração do capitão Nascimento (Wagner Moura). A versão pirata me parece mais real do que a oficial. Limparam demais algumas falas. A crueza foi embora, quem sabe para que as senhorinhas mais sensíveis pudessem ver na sala de suas casas. A edição e a montagem também colaboram nesta limpeza padrão Hollywood (por que tiraram os capítulos?). E o filme que era extremamente sensacional ficou só sensacional.
Ok, sensacional também é um bom adjetivo para Tropa de Elite. E eu realmente acredito nisso. É um dos melhores filmes feitos no Brasil até agora. Sou fã de carteirinha. Dou a maior nota possível. Mas, no meu íntimo, penso que a versão pirata era melhor... Que pena que vazou... Nota: 10.
Melhor diálogo do filme:
- Você é estudante? Bota a cara aqui... Aqui! Bota a cara aí! Tá vendo isso aqui? Tá vendo esse buraco aqui? Quem matou esse cara aqui? Quem matou esse cara aqui? (capitão Nascimento - Wagner Moura)

- Eu não vi... (estudante)

- Você não viu? Você viu! Você viu! Quem matou? Pode falar! Pode falar! Fala! Fala! Fala! Quem matou? (capitão Nascimento)

- Foi um de vocês... (estudante)

- Um de vocês o caralho! Um de vocês é o caralho! Quem matou esse cara aqui foi você! Seu viado! É você que financia essa merda aqui... Seu maconheiro, seu merda! A gente vem aqui pra disfazer a merda que você faz... É você que financia esta merda... Seu viado! (capitão Nascimento).

Observação: Foi difícil escolher desta vez! Esse filme é cheio de citações maneiras e que viraram bordões nacionais.

TROPA DE ELITE (FILME (Elite Squad) - 2007 - Gênero: Crime - Direção: José Padilha // Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Maria Ribeiro, Fernanda Machado, Fernanda de Freitas, Paulo Vilela, Milhem Cortaz, Fábio Lago, Fernanda de Freitas, André Felipe // Imagem: Google Images.
OS SIMPSONS - O FILME (THE SIMPSONS MOVIE):
Depois de décadas de sucesso na TV, Matt Groening resolveu acatar os pedidos dos fãs e lança o primeiro filme de Os Simpsons. Confesso que já fui mais fã do seriado. Ultimamente, não ando vendo muito. Mas o filme eu não podia perder, né?
A história é a seguinte: Springfield está há muito tempo poluindo o lago principal da cidade. Lisa (Yeardley Smith) é a primeira a entrar na luta para salvá-lo. Os cidadãos decidem então, fazer um mutirão para despoluí-lo.
Enquanto isso, o vovô Simpson (Dan Castellaneta) tem uma revelação durante um culto na igreja. Ele fala coisas desconexas, mas Marge (Julie Kavner) fica intrigada. Mas o resto da família não está nem aí. Lisa está apaixonada, Bart (Nancy Cartwright) procura uma figura paterna e Homer (Dan Castellaneta)... Bem... O Homer é o Homer. Mas desta vez ele tem um brinquedo: um porco de estimação. E é aí que começa a confusão.
Homer é o responsável burla a proibição de sujar o lago. E por causa dele, Springfield passa por maus bocados. O órgão ambiental do governo (EPA) resolve trancar a todos em um domo de vidro, para evitar que a poluição se espalhe. Precisa contar que vai haver confusão?
O filme é um grande episódio de Os Simpsons... Quer dizer, o riso e o deboche é garantido. O que eu achei mais legal foi a decisão de manter o filme como a série original: em 2D, como os trailers mesmo se orgulhavam de afirmar. Em 3D ia ficar sem graça. Muito bom para os fãs e para os não fãs. Nota: 8.
Melhor citação do filme: "Eu não acredito que estamos pagando para assistir algo que temos na TV de graça! Se alguém me perguntasse, eu diria que todo mundo aqui neste cinema é um grande idiota. Especialmente você!" (Homer Simpson - Dan Castellaneta, apontando para nós, o público)
OS SIMPSONS - O FILME (The Simpsons movie) - 2007 - Gênero: Animação - Direção: David Silverman // Dan Castellaneta, Julie Kavner, Nancy Cartwright, Yeardley Smith, Hank Azaria // Imagem: Adoro Cinema.