sábado, 8 de setembro de 2007

ÔNIBUS 174 (BUS 174):
Em 12 de junho de 2000, o Rio de Janeiro - na verdade, o Brasil inteiro - parou. Não para comemorar o Dia dos Namorados, como de praxe. Foi para assistir pela TV o drama de um grupo de pessoas que estava dentro de um ônibus no Jardim Botânico e foi sequestrado por um assaltante visivelmente alterado por uso de drogas. Como carioca, lembro deste dia e do horror e indignação causados por mais de 4 horas de negociações, desesperos e ameaças que levaram ao desfecho trágico do sequestro do ônibus da linha 174.
Na época, o sequestrador Sandro Nascimento era visto por toda sociedade como o próprio anti-cristo e muitos eram à favor do que aconteceu com ele no fim das contas. O cineasta José Padilha se interessou pela história e decidiu ir mais fundo no que leva uma pessoa a fazer o que Sandro Nascimento fez naquela tarde. Este é o pano de fundo para um dos documentários mais realistas já feito no Brasil.
Ônibus 174 mostra os diferentes pontos e visões da tragédia, que no fundo era anunciada. Para isso, temos depoimentos de alguns reféns, de policiais que estiveram presentes na operação, de psicólogos, jornalistas, consultores, assistentes sociais etc. Não há legendas com os nomes e funções destas pessoas, o que torna o documentário quase que uma análise informal de pessoas leigas sobre o tema.
Enquanto confronta a decisão tática da Polícia para resolver o caso do sequestro do ônibus, o documentário também mostra quem era Sandro Nascimento. Conta seu passado e aponta sua falta de futuro. Pessoas que conviveram com ele analisam sua personalidade e como se tornou o sequestrador do ônibus 174.
Esta parte também faz um paralelo com a vida dos meninos de rua da cidade. Alguns, chegaram a conviver com ele. Esta análise é extremamente crua e impressionante. São pessoas que não tem perspectiva alguma de vida, a não ser lutar um dia de cada vez pela sua sobrevivência. Independente de que jeito seja. Uma das entrevistadas ainda faz a profecia de que a violência não tem a tendência de melhorar e sim, de ficar pior. E não é o que vemos hoje, anos depois do filme ser lançado?
Fui ver Ônibus 174 movida pela onda do outro filme de Padilha: Tropa de Elite. A semente de um está no outro, pois ambos analisam a nossa sociedade injusta e, por isso mesmo, violenta. Terminei de ver o documentário me sentindo mal. Ele mexeu com meus sentimentos, me fez pensar e até entender pessoas como Sandro Nascimento. Para quem não tem nada e só recebe violência da sociedade, não há como responder de outra forma. É justificável, mas não perdoável. O documentário faz pensar que a violência vem de nós mesmos. E que naquele caso do sequestro do ônibus 174, todos temos nossa parcela de culpa. Nota: 9.
Melhor citação do filme: "Ele vai matar geral" (frase escrita no parabrisas do ônibus sequestrado por uma refém à mando do sequestrador Sandro)
ÔNIBUS 174 (Bus 174) - 2002 - Gênero: Documentário - Direção: José Padilha // Elenco real // Imagem: Adoro Cinema.

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