sábado, 30 de março de 2002

XANGÔ DE BAKER STREET (Idem):
O cinema brasileiro está de volta! Ainda bem! E voltou para melhor... Desde "Carlota Joaquina", que timidamente abriu portas para novas produções, o cinema nacional está comprovando que brasileiro não entende apenas de futebol, samba e mulatas. Sabemos fazer bons filmes também. O mais legal disso tudo é que a maioria dos filmes nacionais produzidos atualmente, são baseados na nossa literatura. Só nos últimos meses, por exemplo, estrearam "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, "O Auto da compadecida", de Ariano Suassuna, "Buffo & Spallanzani", de Rubem Fonseca e "O Xangô de Baker Street", de Jô Soares. Este último é um dos filmes nacionais mais bem articulados que eu já vi. A história toda se completa, deixando pouca margem para aquelas duvidazinhas chatas que ficam na mente do espectador quando o roteiro não é bem costurado. Você entende cada passo do filme: as investigações, o motivo que levava o assassino a matar suas vítimas... Não vejo margens para dúvidas. Digamos até que seja um roteiro bem didático. A história passa-se na época do reinado de D. Pedro II (Cláudio Marzo), em 1886. Este, presenteia sua amante, a Baronesa Maria Luiza (Cláudia Abreu) com um violino stradivarius raríssimo. O violino é roubado, ao mesmo tempo em que acontecem uma série de assassinatos na corte. As armas dos crimes são cordas de violino e as vítimas, mulheres inocentes. Preocupado com os acontecimentos, D. Pedro II é aconselhado a contratar o famoso detetive Sherlock Holmes (Joaquim de Almeida), amigo da atriz Sarah Bernhardt (Maria de Medeiros) - de passagem pelo Brasil na época - para desvendar estes mistérios. Enquanto buscam a solução, Sherlock Holmes e Dr Watson (Anthony O'Donnel) passam por situações cômicas em sua visita aos trópicos. Não podíamos esperar menos de Jô Soares no que se refere a comédia. Ainda não li "O Xangô de Baker Street", o que é uma vantagem. A maioria das vezes em que leio um livro e depois assisto o filme, fico decepcionada. Obviamente, o roteirista não pode adaptar a história em todos os seus detalhes. Somente o livro pode. Algumas vezes os roteiristas aproveitam apenas um capítulo para escrever toda a história do filme. E, dependendo do livro ou do roteirista, a essência da obra escrita se perde. Mas vejo uma coisa muito positiva no fato de surgirem várias adaptações literárias no cinema. Um número maior de pessoas pode entrar em contato com estas obras. O cinema alcança mais espectadores do que a literatura. Muitos que nunca teriam acesso a uma obra literária (independente do motivo) entram em contato com a mesma através da exibição do filme na TV ou no cinema. No meu caso, como gostei do filme, estou interessadíssima em ler o livro também. Afinal, nunca ouvi comentário negativo e por isto quero comprovar. E acho que o filme é um incentivo à leitura. Espero mesmo que mais filmes baseados na literatura sejam produzidos. A cultura nacional agradece.

Melhor diálogo do filme: "Em geral a Pomba-gira só baixa em mulheres ou em... Sr Holmes, seu amigo é afeminado?"

"Não, ele é inglês."

XANGÔ DE BAKER STREET (Idem) - 1999 - Gênero: Policial / comédia - Direção: Miguel Faria Jr // Marco Nanini, Cláudio Marzo, Cláudia Abreu, Caco Ciocler, Maria de Medeiros, Joaquim de Almeida. (04/11/2001)

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